Se tem algo que sempre me incomodou é o fato de um coisa servir para tudo. Por exemplo: “Canivete que tem abridor de garrafa, tesoura, chave de fenda”; “Sapatenis” e “tablet que vira computador”. Para mim, quando há muita coisa em um único lugar, na verdade não tem nada que funciona direito.
Esse meu incomodo eu levo na minha profissão: me incomodava o fato de aprender uma técnica da fisioterapia, e isso servir para todos os tipos de dores e de problemas. Ou algum aparelho, servir para tudo. Eu gosto da especificidade.
Para dores na coluna, por exemplo, quando um paciente me procurava, eu sabia que em um universo de dores, eu podia ter 8 possibilidades diferentes para aquele tipo de dor, que variavam para a dor aguda até os tipos e subtipos de dores crônicas.
Resolvi, então, parar de aprender técnicas (inclusive comecei a questionar todas que eu já havia aprendido), e comecei a procurar maneiras de classificar os problemas, não somente pela sua patologia (hérnia de disco, fraturas, doenças reumáticas), mas também classificar por todas as nuances que envolve o universo de uma pessoa com dor. Como separar ou dividir por cores, ou “cada coisa em seu lugar”!
O que é a Classificação em Subgrupos
Conheci o Sistema de Classificação em Subgrupos, que foi descrito por Anthony Delitto e vem sendo utilizado desde 1995. O sistema nada mais é que uma maneira de classificar os problemas da coluna e direcionar à tratamentos em cada caso específico. E apaixonei logo de cara. Eu tinha agora uma ferramenta que dava o poder de classificar todos os problemas e poder utilizar a melhor ferramenta para tratamento de uma condição de saúde da coluna.
O sistema é fundamentado da seguinte forma: separamos os pacientes em 3 bandeiras – vermelha, amarela e verde. Como um semáforo: vermelha é algo urgente, amarelo demanda mais atenção e verde tem passe livre. Para fazer essa classificação, utiliza-se além do conhecimento clínico, a utilização de questionários específicos, e a habilidade de realização de testes clínicos.
O segundo passo, e o mais interessante ao meu ver, é separar para tratamento. Nesse momento, temos outras três divisões: modulação dos sintomas, controle do movimento, e otimização funcional. Nessas três divisões, é onde vamos ver se temos a ferramenta certa para atender nosso paciente.
Saber sobre esse tipo de divisão, poder estudar profundamente sobre, me fez entender que:
1) há condutas clínicas que não servem para nada;
2) há condutas clínicas que quando utilizadas de forma errada, não servem para nada;
3) é necessário ser específico no que fazemos, pois aumentamos a chance de termos sucesso no tratamento;
4) que nem tudo é receita de bolo: uma paciente que hoje precisa de controle de sintomas, amanhã pode ser de controle de movimentos e depois outro tipo de modalidade;
5) que é necessário buscar evidências na área da saúde. Boas evidências.
Ah: ainda tem a classificação do paciente de acordo com o tipo de dor predominante. Mas isso assunto para outra história.